Religião, fé e Estado

O presidente Fernando Henrique Cardoso foi eleito duas vezes em primeiro turno, em 1994 e depois em 1998. Ele é ateu ou agnóstico, e a religião era não-assunto nas campanhas políticas. Podemos dizer o mesmo nas eleições dos presidentes Lula e posteriormente Dilma. Religião era não-assunto. O Estado brasileiro é laico, ou seja, não tem uma religião oficial e a Constituição Federal brasileira diz em seu artigo 5º, VI, ser “inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”.

Mas como mostra a pesquisa Datafolha publicada em 15 de outubro de 2022, 49% dos eleitores dão muita importância à religião para decidir o voto. É um retrocesso.

Em todo país com democracia saudável o Estado é laico e a fé, a crença, ou não-crença, do indivíduo é respeitada. Liberdade religiosa, Estado laico e democracia possuem fortíssima aderência. Mas agora em 2022 a religião do candidato à presidência se tornou primazia na campanha política eleitoral. Mais uma vez: um retrocesso.

Marina Silva, candidata à presidência por duas vezes nunca usou da fé para fazer campanha. É temeroso vincular crença religiosa e política e as evidências mundo a fora são muitas. Como exemplo fique com o Irã, um país do Oriente Médio sob a batuta do aiatolá islâmico Khamenei que com sua política de moralidade tolhe a liberdade das mulheres do país.

Em um país com democracia saudável seus candidatos à presidência deveriam estar apresentado propostas e debatendo política públicas de desenvolvimento. Educação, saúde, moradia, emprego etc. deveriam ser os temas destacados. Mas o presidente Bolsonaro com sua narrativa fascista tem como lema “Deus, pátria e família”. Sim, usar Deus em uma campanha política é fascismo, é assustador, autocrático e temeroso.

Você homem cristão, mulher cristã, lhe convido a refletir: hoje é o seu Deus e seus valores que estão presentes no debate e você possivelmente está confortável com isso. Mas se amanhã o Deus referenciado for um Deus alheio à sua fé, não é mais prudente, justo e principalmente democrático que a fé continue sendo um não-assunto, e que o artigo 5º da Constituição continue sendo um dos pilares da nossa democracia?

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