Copa do mundo e dia da consciência negra

Hoje é dia 20 de novembro de 2022. Dia da Consciência Negra e dia que tem início a Copa do Mundo de Futebol no Qatar.

Meu dia começou percebendo que continua a faltar consciência e sobrando ignorância ao brasileiro. Muitas páginas esportivas no Instagram destacaram jogadores negros presentes no Qatar. A coincidência das datas praticamente minou a criatividade jornalística e todas as páginas associaram negritude no futebol para marcar o feriado de conscientização.

E aí que entra a ignorância do brasileiro. Quando se destaca jogadores negros, chove comentários racistas dizendo que fulano não é negro e sim pardo. Apesar de amplamente divulgado pelo IBGE nas últimas duas décadas, o brasileiro ainda não entendeu que pretos e pardos são os negros. Que a cor da pele é um dos muitos fenótipos que define uma pessoa negra; nariz, boca e cabelo são outros traços que as identificam.

O negro é majoritariamente morador periférico. Pretos ganham 40% menos do que brancos por hora trabalhada. Ações judiciais por racismo no trabalho cresceram absurdamente nos últimos anos no país, um aumento de 208% de 2018 para 2021.

Se você que lê esse texto é branco tenho quase certeza que jamais se preocupou em observar se a roupa que vestia podia lhe caracterizar como bandido. Toda pessoa negra já. Também não acredito que já tenha sido confundido com bandido simplesmente por estar correndo nas ruas do seu bairro. E muito menos ter acontecido de alguém que vinha em sentido contrário ao seu em uma calçada durante a noite repentinamente atravessar a rua.

Paro por aqui e vamos ao Qatar.

O Qatar é um Estado árabe absolutista e hereditário com seus preconceitos primitivos que se tornou independente em 1971. Até poucos anos atrás eu seria veementemente contra qualquer evento mundial por lá. Mas mudei de opinião. Penso que eventos assim trazem um choque cultural e oportunidades de revoluções futuras. A diversidade de costumes durante a Copa fomentará questionamentos e debates no país que se bem direcionados podem trazer melhorias futuras aos seus cidadãos.

Copa do mundo em um país que discrimina todo tipo de minoria iniciando com o dia de aniversário de morte de Zumbi dos palmares. Oportunidade para jogarmos luz e refletirmos sobre os nossos preconceitos e ignorâncias, de vomitar menos bobagens em redes sociais e ir ler um livro de história.

É preciso muitas ações afirmativas por aqui, é preciso cota em todos os lugares. Já passou da hora do Brasil acertar as contas com seu passado racista. Se faz necessário entendermos o racismo institucional e o racismo estrutural brasileiro.

Mas é mais fácil criticar o Qatar e ignorar nossos problemas aqui.

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